Vilma Lúcia Pedro
Assistir/ouvir a apresentação do Bolero de Ravel
remete à organização do processo educacional. Chama a atenção, entre outras
coisas: o sincronismo dos gestos associado à execução individual e particular
de cada membro da orquestra; o olhar atento ao regente associado à atenção
irrestrita ao desempenho dos colegas; o andamento crescente da sinfonia, que
inicia com acordes suaves e lentos e acelera o ritmo, aumentando o tom; a
condução tranquila, firme e segura do regente; a explosão apoteótica da apresentação.
Tudo isso gera um silêncio reflexivo, aliado a uma
vontade enorme de dizer, dizer, dizer.
É possível pensar em muitas coisas para falar. Mas, persiste a dúvida paradoxal:
Seria oportuno citar Rubem Alves (lembrando o caso da águia que quase virou galinha) e dizer que é necessário, ao professor, mirar o exemplo daquele homem que empurrou a águia para o abismo, dando-lhe a chance de voltar a voar? E ainda que urge a preocupação com a postura profissional não se permitindo ser domesticador(a) de “águias”, transformando-as em galinhas? E que o docente não pode aceitar a se transformar em águias domesticadas?
Seria adequado citar Marina Colassanti e lembrar que nunca devemos nos acostumar com as rotinas diárias que acabam enrijecendo nossos sentimentos?
Seria
oportuno falar de teóricos e suas teorias?
Seria
conveniente lembrar que os caminhos e estradas que cada professor trilha é construído individualmente, a partir dos
alicerces da convivência que tiveram com teóricos, com professores no processo
de formação, com colegas de turmas, com o pessoal administrativo da escola, com
alunos....?
Seria
adequado dizer que muito mais que a especialidade profissional é importante o
sentimento daquilo que é belo, do que é moralmente correto, da compreensão das
motivações humanas?
Seria
oportuno lembrar as palavras de Menotti Del Picchia: “voa e canta enquanto
resistirem as asas” e afirmar que os voos docentes devem rumar ao céu, ao
infinito, buscando resistência no alicerce de seus conhecimentos?
Diante
das dúvidas, é urgente compreender, finalmente, que o mais adequado, oportuno e
conveniente é permanecer no silêncio reflexivo que impulsiona.